No início dos anos 80 quando eu fazia faculdade de arquitetura eu tinha uma camisa que eu quase não tirava do corpo magro. Tenho saudade da leveza do corpo, mas a leveza da mente eu sempre procurei carregar comigo e ela continua por aqui, por aí. Era muito legal ser viajandão, ter a cabeça aberta e ter uma camisa daquelas. Era uma camisa tipo hering, branca, com uma estampa “da vaca” (capa do antológico álbum do Floyd “Atom Heart Mother”) e embaixo da vaca simplesmente estava escrito: PINK FLOYD.
Aquele início de década era meio estranho, deliciosamente estranho e ainda não codificado. Nem eu era um remanescente dos anos 70 como os caras mais velhos e nem os hoje nostálgicos anos 80 tinham acontecido. Entrei muito novo na faculdade e havia uma galerinha mais antenada com esse mundo outsider. Mas a maioria achava estranho: – O que tem a ver Pink Floyd com essa vaca? Como aquele era um disco mais antigo, não era muito conhecido na minha turma da faculdade. Independente de ser a capa do disco, eu achava o máximo a imagem da vaca com o nome Pink Floyd. Tipo: tudo é possível de se relacionar, nossa mente é livre para pensar e juntar o que quiser!
Nessa época, comecei a cantar com a minha primeira banda (“FLUIDOS”, talvez não tão inconscientemente uma mistura de Floyd com Mutantes), e lembro o dia em que um amigo comunista do meu irmão mais velho entrou num ensaio nosso no quarto de som lá de casa no momento em que tocávamos TIME – Manoca estava tirando o solo de David Gilmour e ele nos disse:
– Vocês ainda estão nessa de Pink Floyd?
Na camisa dele (também tipo hering) estava escrito: “Meu coração é vermelho e do lado esquerdo”.
E lado a lado, aqueles universos paralelos foram se encontrando.
